ENCERRAMOS ESSA SÉRIE "DRUMMOND : POEMAS NARRADOS POR PAULO AUTRAN" com aquele poema que enlouqueceu os acadêmicos em seu lançamento; "No meio do caminho".
Em 2011, esse que é o mais enigmático poema de Carlos Drummond de Andrade, completa 83 anos de sua publicação. De 1928 pra cá, o vendaval acarretado por "No meio do caminho" é, sem dúvida, maior do que a de qualquer outro poema brasileiro. Contudo, diante de tantas especulações, ainda não foi encontrada resposta satisfatória para o enigma da pedra, e talvez daí venha sua inegável grandeza para a história da literatura nacional.
"No meio do caminho" foi publicado no terceiro número da Revista Antropofágica, um dos veículos-símbolo do Modernismo brasileiro. Vamos lembrar que Drummond era amigo do fabuloso Mário de Andrade, nada mais nada menos que o pai do Modernismo, que disse ser o poema um grande exemplo de cansaço intelectual. Um eterno cansaço, pelo visto, pois as pessoas, até hoje, ficam "fatigadas" tentando descobrir o que há por trás do poema.
Humf....tolo....
Tanto já se falou sobre "No meio do caminho" que não é necessário cair na tentação de analisá-lo. E não serei eu, quem o fará...O fato é que ele entrou para a vida cotidiana das pessoas e até o não-leitor conhece a expressão "no meio do caminho tinha uma pedra". Num país onde se lê pouco, realmente é uma conquista, em termos de popularidade, por parte de um poeta "gauche", ou "esquerdo", que teve a coragem de enfrentar a crítica da época, quando ainda não era reconhecido.
Arnaldo Saraiva escreveu excelente prefácio no livro Uma pedra no meio do caminho ― biografia de um poema, cuja seleção e montagem foram feitas pelo próprio Carlos Drummond e editado em comemoração aos 40 anos da publicação do poema.
Para se ter uma idéia do teor do livro, transcrevi, abaixo, um dos comentários, publicado originalmente no Correio da Manhã, intitulado "Contra-a-mão. Os nossos atuais gênios poéticos". Data: 26 de agosto de 1938. O autor é Gondin da Fonseca e encontra-se nas páginas 32 e 33 do volume citado:
O material de criação do poeta-mor do Brasil, são os escombros limítrofes da existência humana. Há pedra no caminho que não acaba mais! Dezenas, centenas, milhares! Pedras de concreto, de cimento, de cocaína, de "rollings" de tudo quanto é jeito...
Citando Gondim novamente;
"Os poetas antigos eram muito mais interessantes que a maioria dos de hoje. Ainda anteontem, domingo, eu reli, deliciado, alguns versos encantadores de Luis Delfino e dei depois uma boa gargalhada quando mentalmente os comparei à pedra de Drummond.
Ela andou por aqui; andou: primeiro
Porque há traços de suas mãos; segundo,
Porque ninguém, como ela, tem no mundo
Este esquisito, este suave cheiro.
[...] Hoje não se rima. Um cabra vai pela rua, tropeça por exemplo numa casca de banana, papagueia a coisa umas quatro ou cinco vezes e pronto! Está feito um poema:
Eu tropecei agora numa casca de banana.
Numa casca de banana!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Caí para trás desamparadamente,
E rasguei os fundilhos das calças!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Numa casca de banana!
Eu tropecei agora numa casca de banana!"
Realmente hilário!
Ah... Que poema controverso meu deus...Porque ele foi feito, se sabias que eu não era Deus?
E você caro leito do blog http://constantepoetica.blogspot.com/? Já parou para pensar qual o significado do poema? Qual o significado da poesia em um mundo acidentado, cheio de buracos e de pedras para todos os lados? Humn... As vezes temos as respostas, mas não sabemos quais são as perguntas!
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
PAZ, LUZ E SABEDORIA!
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