Essa semana comemoraremos os 109 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade...Não é uma data redonda?
Sem problemas! Drummond é sempre Drummond!E todo o momento é momento de se ler, falar, ouvir, sentir, viver Drummond.
BIOGRAFIA
Vindo a esse mundo pela última vez em 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, Minas Gerais para ser eterno. Drummond era formado em Farmácia, mas trabalhou a maior parte da vida como funcionário público. Faleceu em 1989 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha ( a quem dedicou belos versos).
Drummond estudou em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, estudante no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, de onde foi expulso!!! Depois, voltou a Belo Horizonte e se tornou escritor no Diário de Minas.
MODERNISTA?
Embora tenha contribuído com o Modernismo mineiro, não podemos classificar Drummond como poeta modernista. Ou melhor, podemos considerá-lo sim, mas assim como Machado de Assis ou Fernando Pessoa, Drummond foi um autor livre de referências, marcas ideológicas ou prospectivas. Ele era seu próprio estilo. No entanto, não se pode negar que o poeta herda traços estilísticos do Modernismo, como o verso e a metrificação livre, temáticas cotidianas e concretismo. Admirado por seus pares, Drummond é respeitados pela sua sensibilidade e genialidade no uso das palavras.
FASE MODERNISTA
Sem dúvida, “Alguma Poesia - DOWNLOAD AQUI”,sua primeira obra, foi escrita sob o raio do Modernismo, utilizando-se de poemas-piadas, estética coloquial, poesia do cotidiano, negando as tendências parnasianas, como bom modernista! Surge aí, uma poesia irônica e eterna.
O livro traz como tema a guerra, desilusão, sofrimento humano e política, através de dimensões metafóricas, mostrando poemas com a visão ideologia Marxista existente no escritor.
Ao longo de sua vida, Drummond foi se desiludindo com a política, entregou-se ao esoterismo e muito de suas obras assumiam facetas metafísicas. Ao fim de sua longa vida, em 1980, até o erotismo ganhou espaço em sua poesia.
CURIOSIDADES
- Drummond é tido como um dos três mais importantes poetas da Língua Portuguesa, ao lado de Camões e Pessoa.
Possui uma escultura (muito visitada)em Porto Alegre, ao lado de Mário Quintana e no Rio de janeiro, em Copacabana.
Como o poeta representou a cidade onde nasceu diversas vezes em sua poesia, há um memorial em sua homenagem em Itabira.
Entre seus inúmeros escritos, destaco nesse momento, “Depois do jantar”, que você amigo Constante, confere agora:
Depois do jantar
Carlos Drummond de Andrade
Também, que idéia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar.
O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio.
— Não tenho trocado. Mas tenho cigarros. Quer um?
— Não fumo, respondeu o outro.
Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio:
— 9 e 17... 9 e 20, talvez. Andaram mexendo nele lá em casa.
— Não estou querendo saber quantas horas são. Prefiro o relógio.
— Como?
— Já disse. Vai passando o relógio.
— Mas ...
— Quer que eu mesmo tire? Pode machucar.
— Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer... Estou meio sem jeito. Essa fivelinha enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude.
O outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio mudou de dono.
— Agora posso continuar?
— Continuar o quê?
— O passeio. Eu estava passeando, não viu?
— Vi, sim. Espera um pouco.
— Esperar o quê?
— Passa a carteira.
— Mas...
— Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade?
— Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer, veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar...
— E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade?
— Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato.
— Diga.
— Tou com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil.
— Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto do assalto?
— Mas você não se identificou como assaltante. Como é que eu podia saber?
— É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na testa do cara. Sou civilizado, manja?
— Por isso mesmo que é civilizado, você podia rachar comigo o dinheiro. Ele me faz falta, palavra de honra.
— Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro.
— Não precisa, não precisa.
— Essa de rachar o legume... Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara-de-pau.
— Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo.
— Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou?
— Claro.
— Você, o assaltado. Certo?
— Confere.
— Então deixa de poesia e passa pra cá os dois mil. Se é que são só dois mil.
— Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo é seu. Quando eu confundi você com um, mendigo (desculpe, não reparei bem) e disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo.
— Tá bom, não se discute.
— Vamos, procure nos... nos escaninhos.
— Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade.
— Deixe ao menos tirar os documentos?
— Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você, isso de jeito nenhum. É contra as regras.
— Nem uma de quinhentos? Uma só.
— Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você precisa. Pela pinta se vê que mora perto.
— Nem eu ia aceitar dinheiro de você.
— Orgulhoso, hem? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom, tudo legal. Até outra vez. Mas antes, uma lembrancinha.
Sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé. Texto extraído do livro "Os dias lindos", Livraria José Olympio Editora — Rio de Janeiro, 1977, pág. 54.
Tropa de Elite 2 ( o filme mais rentável e assistido da história do cinema nacional ) acaba de ganhar seu trailer para ser exibido nos Estados Unidos como prévia aos indicados ao Oscar 2012 de Melhor filme estrangeiro.
"Quando o policial mais durão do Rio entra no corredor do poder ele vai descobrir que seus inimigos agora estão lá dentro".
Este é o texto principal que tenta vender Tropa de Elite 2 - O Inimigo (Elite Squad 2 - The Enemy Within ). O vídeo também traz trechos elogiosos de críticas feitas por blogs e revistas estadunidenses, comparando o filme com Os Infiltrados, O Poderoso Chefão, a série The Wire e com os melhores momentos de Coppola e Scorsese ( do qual creio não ser nenhum exagero!) , e o descrevendo como "de tirar o fôlego, brutal e emocionante".
Leia também entrevista com o diretor do filme José Padilha e Wagner Moura(a pedidos dos leitores, em breve teremos novas postagens sobre esses dois grandes expoentes do cinema nacional!)
Este filme está sendo lançado de forma independente por vocês. O que mudou? Do que você sentiu falta de ter uma major junto e qual foi a grande vantagem de estar independente?
José Padilha: Olha, são simplesmente processos diferentes. Quando você trabalha com uma major, você tem acesso ao Artigo 3º, que são 3 milhões de reais. Quando você abre mão disso, você abre mão desses recursos e você só pode captar 4 milhões, de um filme que custou 14. Isso significa que você tem que ter um investimento privado. Para você ter investimento privado, você tem que ter a possibilidade deste dinheiro retornar para o investidor. E eu acho que em uma produção independente, essa possibilidade é muito maior. Primeiro porque não tem taxa de distribuição. Segundo porque não tem os prazos de pagamentos das distribuidoras. E terceiro, não tem a crosscolaterização, que é o seguinte: faz de conta que um filme faz dinheiro no Brasil, mas é lançado na Argentina, no Peru e perde - o Brasil paga as perdas dos outros mercados. Sem essas coisas, o filme fica mais rentável. Então eu acho que, de fato, com Tropa de Elite 2, inaugura-se uma via alternativa para o cinema brasileiro, que pode tornar o cinema brasileiro mais rentável, um sistema em que a distribuidora não cobra taxa de distribuição, não retém o dinheiro por um prazo de seis meses, que é o prazo de pagamento, e que a distribuição é remunerada por uma prestação de serviço. Essa é a ideia. E em que artistas, Wagner incluído, investem seu salário no filme. Se o filme der dinheiro, a gente ganha. Se não fizer, não ganha.
Muita gente comentou durante a coletiva de imprensa o tema do filme, mas não gênero em si, de ação e policial. Gostaria que vocês comentassem o filme de gênero no Brasil.
JP: Para você entender o mundo, você tem que criar categorias. Você tem, por exemplo, a categoria dos calçados, que é desses negócios que você coloca no pé, tem as blusas porque daí você pode virar para uma criança e falar "pegue o seu sapato" e não correr o risco dela trazer a blusa. A mesma coisa vale para o cinema. Para você poder conversar sobre filmes, você cria categorias. Comédia, drama, terror etc. Não quer dizer que todos os filmes caibam perfeitamente em suas categorias. Os conceitos não dão conta da natureza. Nem no cinema, nem na vida normal, nem na ciência. Acho que Tropa de Elite, tanto o primeiro quanto o segundo, são filmes que escapam da categorização simples. Não caem numa categoria normal. O primeiro é um filme político? É um filme de ação? É o drama do Capitão Nascimento? Você ri pra caramba com o Fábio, então é uma comédia? Não está claro em que gênero exatamente Tropa de Elite cabe. Se eu pegar jornais da época do primeiro filme, estava lá 'Tropa de Elite - Drama - 16 anos'. A maioria dos jornais caracterizou assim. Depois de um tempo, as pessoas vinham falar comigo e perguntava 'você vai fazer outro filme de ação?'. Pô, não era drama? [risos] E no segundo idem.
Então é assim: existem filmes de gênero no Brasil? Claro que existem. Existe comédia romântica - o Wagner acabou de fazer uma que eu estou doido para ver, com o Cláudio Torres, que fez isso muito bem com o Selton Mello e Luana Piovani. Existem filmes que são dramas, existem os filmes infantis, e existem os filmes que escapam desses gêneros. O que você acha?
Wagner Moura: Acho que se por um lado é difícil você colocar filmes em prateleiras, embora sejamos educados de que sapato é sapato e blusa é blusa, uma coisa que eu quero dizer é que o momento brasileiro é muito bom, no sentido da diversidade de filmes que estão sendo feitos. Coisas muito diferentes. Como o Zé falou, acabei de fazer essa comédia romântica com tons de ficção científica, fiz um filme mais intimista, tem um Tropa de Elite... e eu acho que isso é uma coisa saudável do nosso momento atual do cinema brasileiro.
Wagner, gostaria que você falasse um pouco da sua imagem para o Nascimento no Tropa 2, que é muito diferente do personagem do primeiro filme. Ele é um herói que perde o filme inteiro.
WM: Mas no primeiro ele perde também. Ele é um personagem da tragédia grega. Eu descobri isso e achei isso o máximo, é um personagem que caminha para o destino trágico tanto no primeiro quanto nesse. O que acho mais interessante nesse é que Nascimento está mais maduro, mais velho, e mais consciente. Acho que se o narrador e protagonista é mais consciente, nós temos um filme mais complexo. Se nós queríamos um filme mais complexo, esse era o primeiro passo. E nada mais complexo do que a consciência. E no caso dele, a consciência só aumenta o elemento trágico que eu mencionei. Quanto mais consciente ele é, mais o espectador vai vendo a tragédia que é a vida desse cara.
Você pode falar um pouco do seu papel de produtor neste filme?
WM: Essa é a primeira vez que faço isso no cinema. Foi um convite generoso do Zé Padilha, e eu prontamente aceitei. Primeiro porque eu sou um cara interessado no mecanismo de funcionamento do cinema e a oportunidade que o Zé me deu foi de ter um foco mais aberto sobre um negócio que me interessa muito, que apenas como intérprete você não consegue ver. A minha função do filme foi como investidor, eu ajudei a captar recursos, tive alguma importância nisso indo com o Zé em alguns lugares. E o Zé me deu a oportunidade de participar de um monte de coisas de que um ator geralmente não participa. Fui numa reunião de análise técnica, que me deu uma visão que nunca tinha tido antes, muito maior. E acho que tive uma ingerência maior sobre a parte artística do filme, trabalhando com o Zé e com o Bráulio [Mantovani, roteirista] principalmente nessa curva do Nascimento, na hora do desenvolvimento do roteiro. Pude também assistir a montagens diferentes do filme - dei lá algumas opiniões e o Zé acatou algumas.
Você acha que ele se encaixa na descrição de herói?
WM: Essa é uma das grandes polêmicas do primeiro filme. Para nós, nunca um cara que tortura pessoas e coloca gente no saco pode ser visto como um herói. Neste filme, agora, eu diria que esse personagem é mais digno de alguma admiração do que no primeiro. Justamente por essa consciência, essa tomada de posição que ele não tinha antes. No primeiro filme ele vai sendo levado pelos acontecimentos e agia da forma como ele foi treinado para agir. Essa consciência faz com que ele se torne mais ativo, tome mais as rédeas da sua vida.
Há essa tomada de consciência do Nascimento, mas uma coisa que é externa ao trabalho de vocês é a forma como as pessoas continuam respondendo catarticamente às cenas mais fortes em que o Nascimento vai para cima e não tanto ao discurso dele no final.
JP: Vamos falar sobre essa tomada de consciência do Nascimento: eu vejo que no primeiro filme a gente estava falando de um tabuleiro de xadrez e suas peças, e neste estamos mostrando os jogadores. Essa é uma metáfora que funciona na minha cabeça. A consciência que Nascimento toma é desses jogadores, que mexem nesse tabuleiro onde ele era uma peça no primeiro filme. O primeiro filme se dá no cotidiano da polícia. O Nascimento é o chefe de um departamento e opera nas favelas, mas não é inconsciente. Ele, por exemplo, reclama da operação do Papa. Ele é consciente de que está vivendo um drama e que precisa arranjar um substituto para ele no BOPE e colocar lá, senão a vida dele com a família não vai dar certo. Ou seja, ele tem consciência do drama cotidiano dos policiais. Foi isso o que eu aprendi quando estava escrevendo o primeiro roteiro. Quando ele é alçado, o que faz o personagem ter a consciência dos jogadores e não só a de uma peça? O fato de que as circunstâncias o levam uma posição acima. 'Cheguei onde Caveira nenhum chegou antes de mim', ele fala. Ele sai do cotidiano da polícia, não porque ele quer, mas é levado à interface entre a política e a polícia, que é a segurança pública. O Nascimento nunca foi um personagem público, ele sempre foi um cara inteligente com uma visão torta e canhestra da vida, mas quando ele chega ali, ele vê um mundo diferente.
WM: Quando a gente fala do Nascimento do primeiro para o segundo, vale lembrar que estamos falando do mesmo personagem. É o mesmo cara apenas 15 anos mais velho.
JP: Essa tomada de consciência, ela vem da situação dramática. No primeiro filme, ele quer saber como você lida com uma guerra que faz parte do seu cotidiano. Nos Estados Unidos, quando um soldado vai à guerra, ele sai do seu cotidiano e vai para o Iraque. No Rio de Janeiro, a guerra está no seu dia-a-dia. Ele vai para a guerra e depois deixa os filhos na escola, dá um beijo na sua mulher e vai para a guerra de novo. No segundo filme, ele está vendo o que é que move essa guerra. E um cara que tem essa experiência angustiada do primeiro filme, que sofreu com isso, que perdeu a mulher, não consegue lidar com seu filho, vê isso, não é de graça. A catarse eu acho que vem dessa emoção pessoal do personagem. Ele fica enjaulado o filme inteiro. Ele tá comandando Bangu, mas pelo monitor. Acompanha a subido do morro pelo helicóptero. Quando aquilo chega no limite e vem a catarse, o público vai com o personagem. E por que isso acontece? Porque esse cara é um puta ator.
WM: E acho que tem uma coisa que é preciso reconhecer. Acho que o público reconhece, naquela hora, o Nascimento que eles viram no primeiro.
JP: E isso funciona, porque é o momento da virada do filme. Tem duas frases que resumem o filme para mim: 'Imagine se o BOPE trabalhasse políticos corruptos que nem trabalha traficante na favela' e o público vai abaixo e daí vem a conclusão 'E não é o policial que puxa esse gatilho sozinho'.
Quando foi que vocês perceberam o tamanho do sucesso do primeiro Tropa de Elite?
JP: Quando me ligaram em Nova York para falar que o filme tava vendendo pra caralho na Uruguaiana. [risos]
E quando foi decidido que vocês iam fazer o segundo filme?
JP: Várias emissoras de televisão ligaram pra gente na época do primeiro filme - duas aqui do Brasil mais seriamente e duas de fora - e perguntaram se queríamos fazer uma série para a TV. Conversamos com eles, com o Fernando Meirelles, que é amigo do filme e ajudou também e falou que era para fazer, que era legal. Mas sempre essas conversas esbarravam em uma coisa: eu ia ter que assinar um contrato dizendo que o conteúdo final não era meu. A decisão final não ia ser minha porque nenhuma televisão, com toda a razão, faz uma série que ela não controla. Porque vai que o diretor é maluco... vai que é o Zé Padilha! Então chegava na hora e eu não conseguia assinar. Então, não fiz. Mas nesse processo fiquei pensando em que filme eu podia fazer. Há algumas semanas olhei os tratamentos que tínhamos feito para a minissérie e já estão lá alguns elementos que usamos neste filme. E desses pensamentos eu conversei com o Wagner, Bráulio, [Rodrigo] Pimentel, Daniel Rezende [montador], Marcos Prado [produtor] e várias vezes a gente se reuniu para conversar e chegou à conclusão de que a gente tinha mais o que falar. Foi o que eu disse antes: o Estado produz pessoas violentas no crime, produz policiais corruptos porque faltam jogadores, voltando à comparação com o tabuleiro de xadrez. E daí ficamos com vontade de fazer o filme e veio a ideia do lançamento independente. Sou muito feliz com o processo de colaboração que criamos aqui. Eu não acho que diretor é autor. Eu não assino 'Um Filme de José Padilha'. Assino: 'Dirigido por', que é a minha função. Neste filme em particular, foi muito bacana trabalhar com todo mundo e com o Wagner. E já metendo a colher onde não fui chamado, Wagner é diferente de outros grandes atores porque tem ator que pensa no seu personagem, naquela cena. E a minha função como diretor é ajudar o ator a entender o que ele tem que fazer naquele momento, e o encaixe daquilo na história fica comigo como diretor. Wagner é diferente. Ele é um ator que entende o arco do seu personagem, o que cada cena significa neste arco e os arcos dos outros personagens. Então, ele é um ator que tem visão de direção e por isso vai ter que dirigir seu filme... E eu vou ser o produtor! [risos]
WM: Estamos acertados.
Constantes,não posso deixar de postar uma das minha cenas favoritas do filme (e de muita gente também, tenho certeza!), quando Coronel Nascimento estraçalha o político corrupto por completo!!!
Convenhamos, o que é ser poeta? Que tal deixarmos os próprios mestres do oficio nos dizerem?
Fernando Pessoacrê que o poeta é um guerreiro da inverdade:
"O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.”
A agridoce Florbela Espanca alça o poeta acima dos demais:
“Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!”
O poeta da simplicidade Mario Quintana, divertidamente afirma:
“- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver! - Você é louco? - Não, sou poeta”
Então, o que é ser poeta?
Nessa série, abordaremos as biografias, principais obras e curiosidades que compõe o universo dos poetas que, enviados por Deus, nos fazem visualizar as partes secretas (ou não tão secreta assim) da criação Divina. Ou não.
e.e.cummings
Edward Estlin Cummings, que preferia ser abreviado comoe. e. cummings, assim mesmo, em minúsculas, como o próprio poeta assinava e publicava.
Nascido em 14 de outubro de 1894, em New Hampshire, EUA, é considerado por Augusto de Campos (outro espetácular poeta, de temática concretista) um dos maiores inovadores da linguagem da poesia e da literatura no século XX.
ESTILO
Cummings é conhecido pelo seu característico estilo não usual, que utiliza na maior parte de seus poemas, além de seu uso não ortodoxo, tanto das letras maiúsculas e minúsculas quanto da pontuação, com as quais, inesperadamente, de forma aparentemente errônea (só aparentemente) para o leitor mais desavisado, a ponto de não compreender a essência da própria linguagem verbal tal como ela é captada pelo poeta. Capaz de de interromper uma frase, ou mesmo palavras individualmente; o poeta explora fonemas individuais para se chegar ao "microritmo". Desta forma, talvez há quem possa criticar o poeta como um "poeta para poetas", ou seja, um poeta que exige a leitura de um especialista. Bobagem! Após algumas leituras, seus poemas mais inusitados são de leitura bastante simples e fluente.
Muitos de seus poemas possuem distribuição tipográfica não-linear. Através desta distribuição não-usual, aliada aos recursos anteriormente citados, é possível perceber de que forma a linguagem verbal se forma a partir do nosso inconsciente, resultando assim, em um texto altamente objetivo, ao mesmo tempo que expressivo.
O primeiro livro de cummings é publicado em 1923, quando o Surrealismo expressa-se predominantemente. Preocupados basicamente em desenvolver uma revolução do conteúdo, os surrealistas se afastam da revolução estrutural das primeiras décadas do século XX. Cummings, no entanto, seguiu em outra direção, aprofundando o legado de forma mais "construtivista", da mesma forma que na pintura, surgia o Cubismo!
Apesar da afinidade de cummings com as antigas vanguardas do início do século XX e de sua tipografia não usual, parte de seu trabalho é mais tradicional, em verso livre ou poesia em prosa, apresentando, inclusive, poemas em formato de soneto! Seus poemas com frequência tem como pano de fundo o amor (ah...o Amor!) e a natureza.
Durante toda sua vida ele publicou mais de 900 poemas, duas novelas, diversos ensaios e também inúmeros desenhos, sketches e pinturas. É lembrado como uma das vozes mais importantes da literatura do século XX, sendo elogiado por artistas como T.S Elliot e Ezra Pound.
Faleceu aos 67 anos de idade e é tido como um dos maiores da Literatura estadunidense, pela sua tranformação na linguagem poética e grande sintonia com os movimentos da época.
POESIAS
nalgum lugar em que eu nunca estive
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio: no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram, ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente, assim como o coração desta flor imagina a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura compele-me com a cor de seus continentes, restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre; só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas) ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas”
Tradução de Augusto de Campos
“em algum lugar onde nunca estive
em algum lugar onde nunca estive, e felizmente aquém de qualquer experiência, teus olhos guardam seu silêncio: em teu gesto mais frágil há coisas que me envolvem ou que não posso tocar porque estão muito próximas
teu olhar mais leve facilmente me descerra embora eu me tenha fechado como dedos, e me entreabres sempre, pétala por pétala, com a Primavera (por toques habilidosos, misteriosamente) abre a primeira rosa
ou se teu desejo é me fechar, eu e minha vida nos fecharemos formosa e rapidamente como quando o coração desta flor imagina que a neve - cuidadosamente - está caindo em toda parte;
nada do que podemos perceber neste mundo se compara ao poder de tua intensa fragilidade: cuja textura me compromete com a cor de seus países e me entrega para sempre a morte cada vez que respiro
(nada sei do que te faz tão poderosa ao me mover; mas algo em mim compreende apenas que a voz de teus olhos é mais profunda que todas as rosas) ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos assim pequenas”. Tradução de Jorge Wanderley
Para os entendedores do bom inglês, segue os versos em sua escrita original
“somewhere i have never travelled, gladly beyond
somewhere i have never travelled, gladly beyond any experience, your eyes have their silence: in your most frail gesture are things which enclose me, or which i cannot touch because they are too near
your slightest look easily will unclose me though i have closed myself as fingers, you open always petal by petal myself as Spring opens (touching skilfully, mysteriously) her first rose
or if your wish be to close me, i and my life will shut very beautifully, suddenly, as when the heart of this flower imagines the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world equals the power of your intense fragility: whose texture compels me with the color of its countries, rendering death and forever with each breathing
(i do not know what it is about you that closes and opens;only something in me understands the voice of your eyes is deeper than all roses) nobody, not even the rain, has such small hands”
Existe um vídeo com uma versão espetacular do Zeca Baleiro cantando sua versão para o poema.
“Quando o meu amor vem ter comigo
Quando o meu amor vem ter comigo
É um pouco como música
Um pouco mais como uma cor curvando-se (por exemplo laranja)
Contra o silêncio, ou a escuridão...
A vinda do meu amor emite um maravilhoso odor no meu pensamento
Devias ver quando a encontro como a minha menor pulsação se torna menos
E então toda beleza dela é um torno cujos quietos lábios me assassinam subitamente
Mas do meu cadáver s ferramenta o sorriso dela faz algo subitamente luminoso e preciso
- E então somos Eu e Ela ...
O que é isso que o realejo toca.”
Constantes, deixem seus comentários sobre o poeta, sugira novos perfis... O espaço é seu, o Blog é nosso!