segunda-feira, 31 de outubro de 2011

SÉRIE GRANDES POETAS: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, 109 ANOS DO MAIOR POETA BRASILEIRO






Saudações Constantes!




Essa semana comemoraremos os 109 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade...Não é uma data redonda?
Sem problemas! Drummond é sempre Drummond!E todo o momento é momento de se ler, falar, ouvir, sentir, viver Drummond.

BIOGRAFIA
Vindo a esse mundo pela última vez em 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, Minas Gerais para ser eterno.  Drummond era formado em Farmácia, mas trabalhou a maior parte da vida como funcionário público. Faleceu em 1989 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha ( a quem dedicou belos versos).
Drummond estudou em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, estudante no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, de onde foi expulso!!! Depois, voltou a Belo Horizonte e se tornou escritor no Diário de Minas
MODERNISTA?
Embora tenha contribuído com o Modernismo mineiro, não podemos classificar Drummond  como poeta modernista. Ou melhor, podemos considerá-lo sim, mas assim como Machado de Assis ou Fernando Pessoa, Drummond foi um autor livre de referências, marcas ideológicas ou prospectivas. Ele era seu próprio estilo. No entanto, não se pode negar que o poeta herda traços estilísticos do Modernismo, como o verso e a metrificação livre, temáticas cotidianas e concretismo. Admirado por seus pares, Drummond é respeitados pela sua sensibilidade e genialidade no uso das palavras.

FASE MODERNISTA
Sem dúvida, Alguma Poesia - DOWNLOAD AQUI”,sua primeira obra, foi escrita sob o raio do Modernismo, utilizando-se de poemas-piadas, estética coloquial, poesia do cotidiano, negando as tendências parnasianas, como bom modernista! Surge aí, uma poesia irônica e eterna.


POESIA SOCIAL
Marcado principalmente pela obra "A Rosa do Povo - DOWNLOAD AQUI"
 O livro traz como tema a guerra, desilusão, sofrimento humano e política, através de dimensões metafóricas, mostrando poemas com a visão ideologia Marxista existente no escritor.
Ao longo de sua vida, Drummond  foi se desiludindo com a política, entregou-se ao esoterismo e muito de  suas obras assumiam facetas metafísicas. Ao fim de sua longa vida, em 1980, até o erotismo ganhou espaço em sua poesia. 
CURIOSIDADES
- Drummond é tido como um dos três mais importantes poetas da Língua Portuguesa, ao lado de Camões e Pessoa.
Possui uma escultura (muito visitada)em Porto Alegre, ao lado de Mário Quintana e no Rio de janeiro, em Copacabana.
 Como o poeta representou a cidade onde nasceu diversas vezes em sua poesia, há um memorial em sua homenagem em Itabira.
Entre seus inúmeros escritos, destaco nesse momento,  “Depois do jantar”, que você amigo Constante, confere agora:


Depois do jantar
Carlos Drummond de Andrade


Também, que idéia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar.

O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio.

— Não tenho trocado. Mas tenho cigarros. Quer um?

— Não fumo, respondeu o outro.

Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio:

— 9 e 17... 9 e 20, talvez. Andaram mexendo nele lá em casa.

— Não estou querendo saber quantas horas são. Prefiro o relógio.

— Como?

— Já disse. Vai passando o relógio.

— Mas ...

— Quer que eu mesmo tire? Pode machucar.

— Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer... Estou meio sem jeito. Essa fivelinha enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude.

O outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio mudou de dono.

— Agora posso continuar?

— Continuar o quê?

— O passeio. Eu estava passeando, não viu?

— Vi, sim. Espera um pouco.

— Esperar o quê?

— Passa a carteira.

— Mas...

— Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade?

— Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer, veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar...

— E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade?

— Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato.

— Diga.

— Tou com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil.

— Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto do assalto?

— Mas você não se identificou como assaltante. Como é que eu podia saber?

— É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na testa do cara. Sou civilizado, manja?

— Por isso mesmo que é civilizado, você podia rachar comigo o dinheiro. Ele me faz falta, palavra de honra.

— Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro.

— Não precisa, não precisa.

— Essa de rachar o legume... Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara-de-pau.

— Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo.

— Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou?

— Claro.

— Você, o assaltado. Certo?

— Confere.

— Então deixa de poesia e passa pra cá os dois mil. Se é que são só dois mil.

— Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo é seu. Quando eu confundi você com um, mendigo (desculpe, não reparei bem) e disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo.

— Tá bom, não se discute.

— Vamos, procure nos... nos escaninhos.

— Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade.

— Deixe ao menos tirar os documentos?

— Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você, isso de jeito nenhum. É contra as regras.

—  Nem uma de quinhentos? Uma só.

—  Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você precisa. Pela pinta se vê que mora perto.

—  Nem eu ia aceitar dinheiro de você.

— Orgulhoso, hem? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom, tudo legal. Até outra vez. Mas antes, uma lembrancinha.

Sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé.


Texto extraído do livro "Os dias lindos", Livraria José Olympio Editora — Rio de Janeiro, 1977, pág. 54.


Para saber mais:

http://www.carlosdrummond.com.br/

http://www.releituras.com/drummond_bio.asp


http://constantepoetica.blogspot.com/view/sidebar#!/2011/10/serie-grandes-poetas.html



 

 
 

Um comentário:

Paulo - filosofia poética! disse...

Sensibilizado agradeço sua manifestação de carinho ao poeta que é gerador
de motivação para minha inspiração.
Que seu dia seja de luminosidade, paz e amor no coração