Dando continuidade a SEMANA CARLOS DRUMMOND ANDRADE, vamos falar um pouquinho do primeiro livro do poeta "Alguma poesia". Em “Alguma poesia”, meu livro favorito do grande mestre, é utilizado uma linguagem coloquial do primeiro Modernismo, após a Semana da Arte Moderna de 1922. É uma obra da fase dita heróica, combativa e pragmática do modernismo brasileiro, escrito em versos livres (sem métrica regular)onde a rima só aparece, quando aparece, de forma irônica, como por exemplo;
“Mariquita, dá cá o pito
No teu peito está o infinito”
Nos sensíveis versos de ” Poema de Sete faces”, ocorre a crítica irônica aos processos poéticos tradicionais:
“Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.”
Em suma, “Alguma Poesia” é o retrato vivo do espírito revolucionário que Drummond posteriormente se consagraria.
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.”
Agora acompanhe Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do SKANK em uma primorosa interpretação musicalizada do poema.
Paz, luz e sabedoria Constantes!
2 comentários:
Po...que legal!
O samuel é gente boa!
Ficou mto bom!
gOSTEI CONSTANT
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