Tebho recebido diversos textos e sugestões de postagens (obrigado Constantes) pelo e-mail constantepoética@gmail.com, Twitter : @constantpoetica - clique aqui e pelo Facebook : Clique aqui. Gradativamente, esses textos estão sendo analisados e publicados. No Crônica Constante de hoje, temos esse texto enviado por Caio Mack, que fala de um tema muito presente em nossas vidas, a violência, o medo e a falta de perspectivas. Confira e deixe seu comentário!
MUITO ALÉM DA BARBÁRIE
O carro corre, vejo a paisagem passar, os morros lá longe, as vaquinhas, meu primo me prometeu 3 mil contos, tenho de segurar ela por trás e bater…pô… com esta música no rádio, tchan, tchan e esta criança chorando, eu estou com medo também, mas o Bruno disse que “di-menor” não tem bronca, tudo numa boa…é só um tempinho na Febem.
Lá vai: toma porrada na cabeça, sua vaca…. “Você perdeu, Eliza…”
Segura ela, garoto babaca, e você pára de chorar, bagaceira, e faz teu filho parar também, senão eu largo esse menino na estrada ou não me chamo Macarrão… A gente tentando te ajudar e você criando caso…o Bruno é sangue bom…quando eu vejo o riso dele com os dentes brancos, eu me derreto…ele voando, voando até a bola, santo Deus, a bola obedece o homem, por isso fiz a tatuagem com uma declaração de amizade eterna nas costas, cala a boca, menino filho da égua, eu vou botar um esparadrapo na boca dele…Você também, priminho mané, pára de tremer…Você veio não veio? O Bruno não disse que vai te dar uma grana, hein, seu merdinha…Agora amarelou?
Segura ela, garoto babaca, e você pára de chorar, bagaceira, e faz teu filho parar também, senão eu largo esse menino na estrada ou não me chamo Macarrão… A gente tentando te ajudar e você criando caso…o Bruno é sangue bom…quando eu vejo o riso dele com os dentes brancos, eu me derreto…ele voando, voando até a bola, santo Deus, a bola obedece o homem, por isso fiz a tatuagem com uma declaração de amizade eterna nas costas, cala a boca, menino filho da égua, eu vou botar um esparadrapo na boca dele…Você também, priminho mané, pára de tremer…Você veio não veio? O Bruno não disse que vai te dar uma grana, hein, seu merdinha…Agora amarelou?
Porra, 14 horas de estrada por causa duma desgraçada que cuspiu o remédio do aborto que eu dei…vou encher ela de porrada quando chegar no sítio, ela não me obedece, não quero filho nenhum nem vou dar merda nenhuma pra ela, a Dayanne já me arranhou todo por causa dela, estou de saco cheio, mulher é fogo, só problema…Será que elas não me respeitam? Eu sou o goleiro da próxima Copa, porra, e essas escrotas não me ouvem, por isso eu esculachei aquelas vagabundas da Vila Mimosa, deixei caídas no chão e nêgo não falou nada…Eles respeitam o ídolo aqui…elas não, porra…
Quero pegar minha grana e fugir pela janela do carro, os urubus estão rondando a carniça dum boi lá longe no pasto, tenho de segurar a barra, minha mão treme com esse “tresoitão” sem bala, o sangue da Eliza está pingando no banco…
Olha aqui Eliza, pára de soluçar que eu, Macarrão, garanto… Bruno até falou num apartamento pra você, agora fica quieta, e tapa a boca desse menino, já estamos chegando neste sitio que está uma esculhambação – se eu não cuido de tudo fica esta bosta, vou despedir esse caseiro de merda, sou eu que estou chegando ô babaca, abre a porteira aí…é…sou eu, o Macarrão…é…pronto, agora seu merdinha, pára de tremer e leva a Eliza para dentro do quarto…E´ pro teu bem, menina, entra logo, o bebê não, leva ele pro outro quarto…Não tem leite…o leite dessa baranga já secou…Entra logo, mulher, ali tem uma moringa e um cobertor, fica quieta que o Bruno vem te ver…
Será que o veado do Macarrão já chegou? Ahh, tá lá meu Land Rover, porra, … o Flamengo todo gritando Bruno, Bruno e esta aporrinhação…mulher é fogo…me cortou a onda do churrasco na Rocinha hoje à noite, merda, tudo bem, vou resolver, se não a Dayannne me mata, vou resolver, porra, tenho de me preparar para a Copa de 14 – quem, se não eu? O babaca do Julio César de novo? Ah…já era…Quem defendeu aqueles pênaltis feito o Batman contra o Botafogo?
E ai, Macarrão, beleza? Tá legal… Já vi, mermão: “Nem a força do tempo vai destruir esse amor verdadeiro” – já vi a tatuagem, bonita…agora põe a camisa, Macarra… A porra da Eliza ta chorando alto, vai lá e dá um susto nela, mas não diz que estou aqui, vai…
Pára de gritar, ô vagaba… toma, toma…cala a boca…Cada vez que eu dou um tapa nela lembro do filme dela de quatro com aqueles dois bofes comendo ela, me dá uma tesão danada bater nela… Agora tu vai telefonar pra tua amiga e dizer que tá tudo bem…vai…voz normal, hein..
“Vanessa, tá tudo bem…vim a Minas, é…o Bruno disse que vai me dar um apê mobiliado…”
Agora, engole o choro, senão leva mais porrada… Agora vamos passear…vamos na casa do Neném…ah ah…o Neném Grande. Entra no carro, porra… E você, priminho babaca, leva o garoto no colo…o Neném está esperando…há há…
Esses cachorros parece que adivinham…não comem há dois dias…eles me olham de baixo…isso, range os dentes, Duque, rosna meu filhinho, adoro o cheiro da baba deles, onze, feito um time…Ah…tá chegando a mona…No filme de sacanagem ela é mais gostosa… Pára de chorar, meu bem…eu sou o Neném, gente boa…..Não aguenta mais apanhar, meu bem? Ah…põe o “rap” ai, Macarrão, bem alto…
“Paparapapaparapa kla ki bum
Tem um de AR15 e o outro de 12 na mão. Tem mais um de pistola e outro com dois oitão”
Bota mais alto, agora ….pode gritar, que ninguém ouve…
“Um vai de Uru na frente, escoltando o camburão
Tem dois na retaguarda, mas tão de crock na mão!!”
Mais alto, porra!
Que cheiro bom – bosta, baba de cachorro, dente, ruídos, lama, quem sou eu? Eu sou o Neném…Ôh, Macarrão, é pra dar fim ao bebê também? Não? Então sai fora com ele…Minha filha, deixa eu ver esse corpinho, tira a roupa… isso…tira, porra, ou quer que eu rasgue? Tu é mais gostosa no filme…Eu sou o Papai Noel do saco grande… tá vendo esse saco aqui?…vai ficar cheio de presentes…tira o resto da roupa, tira a calcinha…deixa eu ver tua carne, tu tá gordinha, agora vamos lá, se vira…Vou te comer não…Pra que este facão?….Ah…é pro churrasco…Agora mais alto o rap….aí!!! Bem alto!! Arrasou!!!
“Pa-pa-ra-pa-pa ki bum!!”…
E aí, Brunão! Chegou bem na hora! Tou levando este saco aqui…pros meninos…afasta Sheila, calma Leão…! Os focinhos estão pingando, baba…baba… Estavam esperando, hein, “brotherszinhos”?…Toma lá…lá vai a mãozinha dela, com unha pintada..!!
E aí…Nenem, mandou bem, hein?
Claro, Brunão…cada dentada é de 150 quilos…
Calma, Buzunga, come devagar…tem pra todos…
Pronto, chefe… Tudo resolvido…relaxa que a putada que vem pro churrasco não desconfia de nada… só gente fina…as vagabas são limpas também,..é tudo de Belô…Vai ser um churrascaço…tem picanha, chuleta…
Aí, chefe, dá uma cerveja pra seu priminho aí que não pára de tremer…
E ai, Brunão, tá contente?
Tu mandou bem, hein, Neném!
A gente faz o que o chefe manda…Solta o funk!
Tudo resolvido…me dá a cerveja…Em 2014, eu vou arrasar, Macarrão…
FIM

Allan Constante é o editor do Constante Poética e, por incrível que pareça, ainda se choca com as barbáries desse mundo! Infelizmente...
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