quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CANÇÃO CONSTANTE: CHERISH - NINA SIMONE


Saudações Constantes!



   Existem momentos em que uma música se torna mais que uma música (principalmente em determinados momentos da vida, se torna A música!). Já tivemos alguns exemplos nesse humilde blog (Confira AQUI  e AQUI) mas por agora, ficaremos com a E-S-P-E-T-A-C-U-L-A-R CANTORA/MUSICISTA NINA SIMONE  e sua canção CHERISH!

Como de praxe, vamos à pequena BIOGRAFIA da artista:



   Eunice Kathleen Waymon nasceu em 21 de fevereiro de 1933 e faleceu em 21 de abril de 2003.  Excelente pianista, exímia cantora e compositora estadunidense, teve seu nome artístico adotado aos 20 anos, como uma forma de esconder seu canto de "Blues", ou a "música do Diabo" de seus pais (pastores convictos e ultraconservadores). "Nina" veio de “pequena” - apelido dado por um namoradinho latino ("little one") e "Simone" foi uma homenagem à grande atriz do cinema francês Simone Signoret, sua preferida.
Nina Simone, quando jovem, foi impedida de ingressar em um conservatório de música ultra conceituado na Filadélfia (EUA) por racismo e posteriormente foi perseguida por abraçar publicamente todo tipo de combate ao preconceito. Depois de fracassar na tentativa de ser uma grande concertista pelo conservatório, Nina ficou algum tempo trabalhando como pianista em um bar foi obrigada a cantar para não perder o emprego. Nesse dia o mundo conheceu NINA SIMONE, como se batizou naquela ocasião. Suas músicas tornaram-se clássicas e sua voz imortalizou hits como "Aint Got No - I Got Life", "I Wish I Know How It Would Feel To Be Free", e "Here Comes The Sun", além de "My Baby Just Cares For Me" e outros. 


Nina transitava com eficácia ímpar em grande diversidade de estilos, desde o Gospel, Blues, Soul, Pop... mas foi, principalmente no JAZZ, que Nina mais destacou-se. Uma de suas músicas, “Mississippi Goddamn”, tornou-se um hino ativista da causa negra e fala sobre o assassinato de quatro crianças negras numa igreja de Birmigham em 1963. 
  Nina esteve duas vezes no Brasil, inclusive gravando com Maria Bethânia. Nina era uma intérprete visceral, compositora inspirada e tocava piano com energia e perfeição. Sempre dizia que queria morrer aos 70 anos, pois, segundo ela, "não haveria mais nada por que viver depois disso...". Nina morreu enquanto dormia na França, em 2003. Nina tinha 70 anos de idade.

A CANÇÂO
 Cherish "é uma canção pop escrita por Terry Kirkman , lançada em 1966. A canção chegou ao número 1 nas paradas da Bilboard nos EUA em setembro do mesmo ano, permanecendo por 3 semanas. A única versão da mesma foi ligeiramente editada para remoção de um, dos dois "E eu lembro de você" - ver letra abaixo - linhas perto do fim da canção. Esta edição foi feito como um meio de impedir que a canção ultrapasse a marca de três minutos (!)- coisa rara nas rádios da época.  


 CANÇÂO CONSTANTE
A interpretação da Nina é o grande charme dessa canção. Baladas pop são comuns na Indústria, mas Nina não era uma artista comum e os versos dilacerantes exprimem uma dor, uma angústia, um intravável desencanto que é capaz de quebrar corações. Nina era uma diva, suas opiniões fortes eram marcas registradas. Suas opiniões sobre o amor (e o ser amado) são muitas vezes mordazes e melancólicas.




LETRA
"Cherish is the word I use to describe
All the feeling that I have hiding here for you inside
You don't know how many times I've wished that I had told you
You don't know how many times I've wished that I could hold you
You don't know how many times I've wished that I could
Mold you into someone who could...
Cherish me as much as I cherish you"
Estima é a palavra que eu uso para descrever
Todo o sentimento que eu tenho escondido aqui dentro para você
Você não sabe quantas vezes eu desejei que tivesse lhe dito
Você não sabe quantas vezes eu desejei que pudesse lhe abraçar
Você não sabe quantas vezes eu desejei que eu pudesse
Moldá-lo em alguém que eu pudesse...
Cuide de mim tanto quanto eu aprecio você

Nina exprime seu desencanto com o insucesso em ter (e não conseguir) ter por perto o homem que a completasse a ponto de querer ter o poder de "moldar" esse homem idealizado (ou não).

"Perish is the word that more than applies
To the hope in my heart each time I realize
That I am not gonna be the one to share your dreams
That I am not gonna be the one to share your schemes
That I am not gonna be the one to share what
Seems to be the life that you could
Cherish as much as I do yours"
Estima é a palavra que mais se aplica
Para a esperança em meu coração cada vez que percebo
Que eu não vou ser a única a compartilhar seus sonhos
Que eu não vou ser a única a compartilhar seus esquemas
Que eu não vou ser a única a compartilhar e que
Parece ser a vida que você poderia (ter)
estimo tanto o quanto faço para ser sua

Percebemos que Nina não anda com "boas companhias "rsrs. Esse homem que ela ama e deseja não compartilha de seus sentimentos. Convivendo com um amor não recíproco, sabendo que é alguém ausente na vida (e no coração) do ser amado, Nina apela para sua ultima alternativa, a esperança...
 
"Oh I'm beginning to think that man has never found
The words that could make you want me
That have the right amount of letters, just the right sound
That could make you hear, make you see
That you are drivin' me out of my mind"
Oh, eu estou começando a pensar que esse homem nunca foi encontrado
As palavras podem fazer você me querer
A quantidade de cartas, apenas o som incisivo
Isso poderia fazer você ouvir, fazer você ver
Que você está me guiando para fora da minha mente (de mim)

Em uma mudança rítmica incrível, Nina parece assumir também outra identidade. Essa "nova" Nina percebe que talvez seu homem idealizado não corresponda as suas expectativas. Talvez se ela insistisse com as palavras, as cartas e a música, ele até mudasse de ideia e veria o quanto ela o deseja, mas as ações (ou falta de ação) dele, acaba afastando-a de quem ela realmente é. Perder o amor é algo admissível, perder a si mesmo, o que lhe faz ser o que é,  não. 

MOMENTO CONSTANTE
"Oh I could say I need you but then you'd realize
That I want you just like a thousand other girls
Who'd say they loved you With all the rest of their lies
When all they wanted was to touch your face, your hands
And gaze into your eyes"
Oh, eu poderia dizer que eu preciso de você, mas depois você perceberia
Que eu quero você como mil outras garotas (também querem)
Quem diria que eu lhe amava mesmo com todo o resto das suas mentiras
Quando tudo que elas queriam era tocar seu rosto, suas mãos
E olhar em seus olhos

Nina exprime toda sua revolta/desencanto em versos que, se cantados por outra cantora menos talentosa, soariam simplesmente banais e tolos... Mas Nina é tudo, menos banal. Nina admite que não é o alvo do desejo de seu amado. O mesmo possui "mil garotas" ao seu lado (como também diria Roberto Carlos em "O calhambeque". Mesmo assim, Nina o amou, mesmo com suas mentiras, mesmo arrogantemente insensível, Nina queria algo mais do que "tocar seu rosto, suas mãos..." Nina queria amar (e ser amada). 

"Cherish is the word I use to describe
All the feeling that I have hiding here for you inside
You don't know how many times I've wished that I had told you
You don't know how many times I've wished that I could hold you
You don't know how many times I've wished that I could
Mold you into someone who could
Cherish me as much as I cherish you"
Estima é a palavra que eu uso para descrever
Todo o sentimento que eu tenho escondido aqui dentro para você
Você não sabe quantas vezes eu desejei que tivesse lhe dito
Você não sabe quantas vezes eu desejei que pudesse lhe abraçar
Você não sabe quantas vezes eu desejei que eu pudesse
Moldá-lo em alguém que pudesse...
Cuide de mim tanto quanto eu aprecio você

Nina retoma o tom e os versos do inicio da musica, porém, percebemos que algo sutilmente mudou... A sensação de aceitação da "derrota" é mais latente. Ela pede para ser cuidada tanto quanto ela cuidou dele. E apesar de cheias de beleza, suas preces não serão ouvidas por esse homem... E se não serão ouvidas por ele, talvez, não sejam ouvidas por mais ninguém. Quase conseguimos ver aquela mulher, que mostrou-se  tão forte e capaz de alcançar sua independência sentimental, rebaixar-se ante ao seu sentimento, talvez o único elemento capaz de deixá-la inferiorizada a alguém. Esse complexo e (por vezes) doloroso sentimento de amor.

"And I do cherish you
And I do cherish you"
E eu te adoro
E eu te adoro

Cherish is the word
Estima é a palavra


E no principio, houve o verbo (a palavra) e ao final da canção, reside a estima (talvez) eterna de Nina ante ao amor (e ao desamor) de sua vida. Continuamos como começamos, porém, além da tristeza e da dor, temos a certeza que nada mudará, nem mesmo após uma canção/declaração de amor tão linda em uma voz não menos que magnifica. As vezes, o amor é cruel...E amar é um castigo!

Deixe seu comentário abaixo, participe, esse espaço é seu!

Paz, luz e sabedoria!


Allan Constante é admirador de belas vozes em belas canções...E mesmo com todas as decepções, continua acreditando no amor.




 Saiba mais em:
www.ninasimone.com
http://pt.songcoleta.com/lyrics/cherish_(nina_simone)

sábado, 20 de outubro de 2012

POESIA CONSTANTE: SÓ UM PEDAÇO DE MIM




















Saudações Constantes!

Faz tempo que não posto poesias (sejam minhas ou de outros Constantes) aqui hein? Pois bem...Incentivado pelos Constantes, segue "Só um Pedaço de mim". Simples e objetiva. espero que gostem!

SÓ UM PEDAÇO DE MIM

                                    Allan


É só um pedaço de mim
Só um pedaço de nada, de mim
Que aos poucos se perde em embaraço
que aos poucos se reveste em aço
Diante de seu descaso...


Sou um pedaço de mim
Só um pedaço enfim
Um mar sem mormaço
Um circo sem palhaço
O sucesso sem um passo...

Seja o completo de mim
Seja minha existência sem fim
Seja o amor em meu encalço
Seja meu mundo vasto

Seja também um pedaço...
De mim.


Saiba mais em:
http://www.facebook.com/allanjulio.santos 
http://www.facebook.com/pages/Constante-Po%C3%A9tica/264587726922850?ref=hl

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

NOVA MÚSICA DOS ROLLING STONES: DOOM AND GLOOM! E É SENSACIONAL!!!!!!

Saudações Constantes!




Os Stones, vocês sabem, sempre foi uma das bandas mais comentadas aqui no Constante (Confira AQUI  e  AQUI) e eu não poderia ficar incólume a nova canção dos Stones liberada hoje: DOOM AND GLOOM! E Constantes...A música é incrível! Simples e direta (como o melhor dos Stones) com Mick Jagger sarcástico e cantando muito bem (como sempre), destaque para a guitarra sincopada de Richards e do excelente trabalho da cozinha Baixo/bateria.

Não posso deixar de comentar também o excelente clipe que utiliza de maneira bem interessante a letra "espirrada" na tela ! Confiram o clipe, a letra e a tradução!

I KNOW, IT´S ONLY ROCK AND ROLL...BUT I LIKE IT!!!!!!!!!!!!





 Doom And Gloom  Rolling Stones

I had a dream last night
That I was piloting a plane
And all the passengers were drunk and insane
I crash landed in a Louisiana swamp
Shot up a horde of zombies
But I come out on top
What's it all about?
It just reflects my mood

Sitting in the dirt
Feeling kind of hurt
Aaaaall I hear is doooom and gloom
And aaaaall is darkness in my room
Through the light your face I see
Baby take a chance
Baby won't you dance with meeeeee

Lost all that treasure in an overseas war
It just goes to show you don't get what you paid for
Battle to the rich and you worry about the poor
Put my feet up on the couch
And lock all the doors
Hear a funky noise
That's the tightening of the screeeeews

I'm feeling kind of hurt
Sitting in the dirt
Aaaaall I hear is doooom and gloom
But when those drums go boom boom boom
Through the night your face I see
Baby take a chance
Baby won't you dance with meeee
Yeah
Baby won't you dance with meeee
Oh yeah

Fracking deep for ...
But there's nothing in the sump
There's kids all picking
Ar the garbage dumb
I'm running out of water
So I better prime the pump
I'm trying to stay sober
But I end up drunk

We'll be eating dirt
Living on the side of the roooaaad
There's some food for thought
Kind of makes your head explode
Feeling kind of hurt
Yeah

But aaaall I hear is doooom and gloom
And aaaaall is darkness in my room
Through the night your face I see
Baby come on
Baby won't you dance with me
Yeah
Yeah
Baby won't you dance with me
I'm feeling kind of hurt
Baby won't you dance with meeeee
Yeah
Come on
Baby won't you dance with me
I'm sitting in the dirt
Baby won't you dance with me!

Tristeza e Melancolia

Eu tiva Um Sonho Noite passada
Que eu estava pilotando hum Avião
E de Todos os Passageiros estavam bebados e Insanos
Eu acidentalmente pousei los hum pantano de Louisiana
Disparou UMA Multidão de zumbis
Mas eu não sai topo
Sobre o Que se Trata Tudo ISSO?
ISSO Só reflete humor Meu

Sentado não sujo
Sentindo hum pouco machucado
Tuuudo Que eu escuto E tristeza e melancolia
E tuuudo E Escuridao los Meu Quarto
Pela luz, Seu Rosto eu Vejo
Querida, arrisque
Quenrida, Nao Vai Dançar comigooo?

Perder TODO Tesouro los UMA Batalha exterior
ISSO Só Vai te mostrar Que Você. NAO recebe Pelo Que pagou
Batalha Pela riquesa e Guia Você se preocupa Pelo pobre
Coloque MEUS Pés los Cima fazer sofá
E tranca TODAS como Portas
Escuta hum Barulho de funk
E o aperto dos Parafusos

Eu ESTOU me sentindo hum pouco machucado
Sentado não sujo
Tuuudo Que eu escuto E tristeza e melancolia
Mas entao sos tambores fazem boom boom boom
Pela Noite, Seu Rosto eu Vejo
Querida, arrisque
Querida, Nao Vai Dançar Comigo?
E
Querida Nao Vai Dançar Comigo?
Oh E

Fraturando profundamente
Mas NAO HÁ nada não reservatótio
Ha children colhendo
Em hum Depósito de Lixo
ESTOU correndo parágrafo fóruns da Água
E Melhor eu iniciar uma bomba
Eu ESTOU tentando Ficar sobrio
Mas eu Acabo ficando bebado

NÓS estaremos comendo sujeita
Vivendo nd beira da estrada
Ha hum pouco de comida Pará um Meditação
Que fazer Tipo FAZ SUA Cabeça explodir
Sentindo hum pouco machucado
E

Mas tuuudo Que eu escuto E tristeza e melancolia
E tuuudo E Escuridao los Meu Quarto
Pela Noite, Seu Rosto eu Vejo
Querida, a VEM Cá
Querida, Nao Vai Dançar Comigo?
E
E
Querida, Nao Vai Dançar Comigo?
SINTO-me hum pouco machucado
Querida, Nao Vai Dançar Comigo?
E
Vem Cá
Querida, Nao Vai Dançar Comigo?
ESTOU Sentado não sujo
Querida, Nao Vai Dançar Comigo?






Allan Constante assistiu os Stone na praia de Copacabana e espera que a nova turnê venha ao Brasil!!!!!!!!!!!!!!Yeah!!!!!!





Saiba mais em: www.rollingstones.com.br

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Eddie Van Halen é eleito o maior guitarrista de todos os tempos???????????

Saudações Constantes!

DIRETO DO OMELETE

Eddie Van Halen é eleito o maior guitarrista de todos os tempos

Jimi Hendrix, Brian May e Joe Satriani também estão na lista

Thiago Romariz
16 de Outubro de 2012

eddie-van-halen 
Eddie Van Halen
Em eleição realizada pela revista Guitar WorldEddie Van Halen foi eleito o maior guitarrista de todos os tempos. O músico bateu grandes nomes como Brian May, doQueenJimi Hendrix e Jimmy Page.
A votação dos leitores teve início em abril deste ano e se encerrou no início de outubro. Cerca de 500 mil votos foram computados para 132 guitarristas diferentes. Após separar os dez melhores colocados, a revista fez uma eleição particular entre os dois mais votados, no caso, Van Halen e Brian May. O primeiro conseguiu 62% dos votos, liderando o ranking. Confira a lista dos dez primeiros:
01. Eddie Van Halen (Van Halen)
02. Brian May (Queen)
03. Alex Lifeson (Rush)
04. Jimi Hendrix
05. Joe Satriani (Chickenfoot)
06. Jimmy Page (Led Zeppelin)
07. Tony Iommi (Black Sabbath)
08. Steve Ray Vaughan
09. "Dimebag" Darrell Abbott (Pantera)
10. Steve Vai
Para conferir a lista completa, clique aqui. 

domingo, 14 de outubro de 2012

ARTE CONSTANTE: DESENHOS REALISTAS



Olá galera Constante!


Santo Deus!



Existem muitos artistas de ruas que ao invés de produzirem desenhos comuns, acabam produzindo desenhos  realistas, muitas vezes, em 3D. Piscinas, barrancos, tubarões etc. se tornam "reais", através do uso da ilusão de ótica.

Vejam mais algumas imagens:

Vamos nadar?




 Tudumtudmtudmtudmtududududmdudmdudm (musica tema do Tubarão de maneira tosca).

 

 Inseto bom é inseto morto!

 


   Vai uma Coca aí?




Espero que tenham gostado dessas artes, deixem críticas, elogios e sugestões nos comentários !

Eu sou a Leninha e sou uma leitora/escritora do Constante !




 
Saibam mais Aqui

sábado, 13 de outubro de 2012

ENTREVISTA CONSTANTE: TOM ZÉ

Saudações Constantes!



Sempre me vejo entrevistas dos artistas/personalidades que admiro, e esse é o espaço onde eu as compartilho com os leitores constantes. Claro que teremos entrevistas realizadas pelo blog também, mas por enquanto, fiquem com o genial TOM ZÉ!!!!!!



Leia na íntegra aqui!

Por ANTÔNIO DO AMARAL ROCHA


Depois de "ressuscitado" na década de 90 com a ajuda de David Byrne, Tom Zé já estudou o samba, o pagode, a bossa nova e agora parece disposto a compreender o Tropicalismo que ele mesmo ajudou a criar. Nesta entrevista, complemento da conversa publicada na edição 71 da Rolling Stone Brasil (leia aqui), o cantor e compositor fala não só sobre o novo disco, Tropicália Lixo Lógico, como divaga sobre o passado, além de exaltar a representatividade de "Atoladinha", funk do MC Bola de Fogo.
Como foi a sua educação na primeira infância em Irará (Bahia)? Estava presente o medo de Deus, do castigo?
Perfeitamente... e teve um fato histórico que transformou completamente certos detalhes dessa educação. Vou divagar: houve uma corrente de troca na Europa toda. Deixa eu falar dessa coisa exterior que tem a ver com a gente. Não se incomode que isso é verdade absoluta, pelo menos está registrado nos livros que eu li. A península ibérica, invadida pelos árabes, passou a ser educada pelo zero, digo eu, brincando – o povo mais inteligente daquele momento tinha acabado de inventar o zero. Você pode imaginar todas aquelas civilizações anteriores sem o zero? Além disso, eles tinham uma ciência desenvolvida, uma arquitetura maravilhosa, que é o que até hoje se vê em Barcelona, Madri, e que se orgulham de mostrar. Ciência, matemática, náutica, e esse povo, os árabes, ficou lá na Europa desde o século 7 até o século 15. Quando eles saíram da Europa em 1492, tempos depois, esse povo altamente influenciado e injetado de cultura e de tecnologia fizeram os navios e saíram para os descobrimentos.
O que isso tem a ver com a Bahia e Irará especificamente?
As bandeiras que foram para a minha região em 1576 nunca mais voltaram de lá, ao contrário das que foram para o Mato Grosso, Goiás, Brasil Central. Daí temos quatro séculos de miscigenação, ficaram pobres e miseráveis, mas amavam a cultura dos avós e mantiveram isso nas danças e na música. Agora quem endossa o meu cheque é o escritor Euclides da Cunha, eu não sou autoridade: o sertanejo vive como um cientista, presta atenção a tudo, é um analfabeto apaixonado pela cultura dos avós, e além disso, seus antepassados foram influenciados pelos árabes que eram aglutinadores de tudo de cultura que tinha no mundo.

E como isso deu?
Os portugueses trouxeram para cá os provençais e até os poetas concretos se dizem influenciados pelos provençais e, eles, a toda hora acusam a presença da poesia provençal no Nordeste. Então, todos os tropicalistas na sua região tinham os mesmos gestos e hábitos culturais e tudo o que circulava entre nós era na linguagem provençal.
Você pode citar exemplos?
Por exemplo, lá tem uma dança dramática, a chegança, que trata da construção de navios, de coisas da Escola de Sagres, falando da canção celta que influenciou a canção brasileira, da canção árabe que influenciou a canção brasileira, enfim, tudo isso estava lá na nossa vida e se tornou uma coisa básica. E aí a gente chega na escola primária, que é regida pela palavra escrita. Nesse ponto a educação da gente recebe um choque maravilhoso, uma interpretação do universo! Essa coisa que vai provocar o lixo lógico. Comigo aconteceu assim, e eu acho que com a sensibilidade dos poetas e dos artistas do tropicalismo foi a mesma coisa. A escola falava coisas, você ia pra casa e, puxa... No princípio eu ficava alumbrado. Será que é assim mesmo? Aquela coisa escrita... eu olhava e dizia: todo mundo está entendendo exatamente a mesma coisa! Não é possível!
E esse tipo de impressão aconteceu com você nessa idade ou você formulou depois?
Nessa idade, e depois me lembrei, claro, porque isso foi muito radical. E eu passei tardes pensando: será que o mundo é assim mesmo? Demorei muito pra acreditar que o mundo era assim, que as pessoas do mundo podiam ler. Eu comparava com a minha vida, o saber, a vida organizada, e era quase igual. Acho que isso de comparar era normal em pessoas inteligentes, em pessoas sensíveis. E aí no Ginásio foi fatal a chegada de mais coisas, mais conhecimentos. O hipotálamo guarda, pois guarda até o homem das cavernas, a pré-história em nós.

Fica claro que você tem uma percepção diferenciada da realidade que te cerca.
Espera aí... se eu tenho uma percepção diferenciada, imagine gênios como Caetano e Gil!
do a informação sem conteúdo, a informação por si própria. Vou me socorrer da Neusa [a esposa dele] ... "a coisa é a mensagem..."
"O meio é a mensagem", expressão do Marshall McLuhan.
Ele mesmo, é isso aí, não sou eu não. Eu fiz essa observação sem a capacidade até de descrever, mas a modernidade já fez grandes descrições e observações sobre a luz elétrica. Aliás, todo mundo toma esse choque.
Tendo sete anos de idade e dotado dessas percepções, como você passa a viver nesse meio que você descreveu? Existia um estranhamento entre você, seu pai, mãe e irmãos?
Estou entendendo. Estranhamento não, tinha tentativas de racionalização das coisas, do aprendizado. Minha irmã ganhou uma velocípede e eu queria descrever para ela em palavras que enquanto o pedal estava na parte de cima, ela devia empurrar e deixar o outro pé folgado e quando o pedal chegava embaixo, o outro pé fazia força e esse ficava folgado. Eu queria explicar isso em palavras... É claro que eu expliquei relativamente mal, e dali a pouco os outros irmãos disseram "que nada" e saíram empurrando e ela andando de velocípede por um método não racional. Esses estranhamentos eu tive e tenho a vida toda.

Quando você começou a compor?
Em 1950 eu já fazia canções, e um incidente me tirou a consciência quando um rapaz me mostrou uma música, que é um contraponto do primeiro grau, nota contra nota, algo que me tirou do chão. Esse amigo que tocava flauta me disse: "Agora não toco mais flauta, toco violão". E tocou... [neste momento, Tom Zé pega o violão e toca "De Papo pro Ar", de Joubert de Carvalho, mostrando o quanto essa música o emocionou]. Esse contraponto de nota contra nota, com movimento contrário, me tirou do lugar, o dia virou noite. E daí eu comprei um violão no outro dia, com método e tudo, e comecei a luta. Uma vez tentei estudar na banda de música, tocando sax tenor, mas não cheguei a aprender, porque o dono da banda, veja que coisa curiosa, disse que eu estava "empatando" o instrumento e que eu era filho de rico e por isso não ia tocar na rua. E me botou pra fora da escola! [gargalha]
Quando acontece essa aproximação com os músicos jovens, como você fez agora no álbum Tropicália Lixo Lógico, quem lucra mais?
Eu lucrei muito, não sei se eles lucram. O Emicida trabalha com coisas que eu nunca pensei em encontrar num compositor teoricamente sem informação sofisticada, mas só teoricamente. Fiquei assustado de como uma pessoa por intuição pode achar essas coisas! Mallu Magalhães foi outro tipo de admiração. Uma menina, que, por acaso, fazia música e que começou a ter que responder por isso quando assumiu que era isso mesmo. E aí ela se transformou, se metamorfoseou, muito precocemente. Um casamento, uma ligação séria, uma profissão onde as pessoas tentam procurar intimidades e que ela sai driblando, fazendo disco e se modificando o tempo todo. E assim com cada um dos outros. Consegui descobrir coisas maravilhosas no Pélico, no Washington e no Rodrigo Amarante.
Em Tropicália Lixo Logico existem invenções no nível da linguagem, trocadilhos com letras e temas do tropicalismo e mesmo palavras adaptadas conforme a necessidade, como Arsitote, por exemplo.
É isso sim, eu venho de um mundo em que meu pai chamado Seu Everton e o nome dele se transformava no balcão da loja em Se Evo, Seu Évito, um mundo onde a palavra é modificada para o conforto do falante. E hipotálamo eu botei hipotalo, mas a licença poética é uma coisa com que todo mundo brinca. Aristóteles vira Aristote, Aristotis ou seu Ari. O cancioneiro popular tem essas coisas. Acho ótimo descobrir que peste é uma rima perfeita para best e isso foi uma coisa que eu fiquei feliz de ter achado.
E diferente dos anteriores, agora você só tem uma parceria. São 16 canções, sendo cinco de manifesto tropicalista.
Tem uma, a "NYC Subway Poetry Department", que eu tive ajuda de meu professor de inglês por causa da letra, mas as outras eu fiz sozinho porque algumas eram sobre a Tropicália e eu não podia pedir a ninguém. Soube que a Mallu falava de mim com entusiasmo. Ela ficou de vir aqui e só o fato de ela aparecer me entusiasmou de tal maneira que eu fiz três ou quatro músicas daquelas, e uma delas ela canta, "O Motoqueiro e Maria Clara".
E tem até uma canção provençal. A "Navegador de Canções" é uma cantiga...
É uma boa ideia. Olha, é uma boa interpretação, eu não havia pensado nisso. A Neuza que é apaixonada por essa música... muito bem. É uma boa maneira de falar dela.
Você se preocupa com minúcias e acaba por se diferenciar de outros criadores da música popular.
Desculpe-me, mas daí você fala de uma especialização que eu dou corda, mas quando a gente está falando de Gil e Caetano, a gente está falando de gênios, não estamos falando de uma tendência. Gênio da percepção de que o mundo todo é compreendido em forma de faíscas, e isso é outra coisa. Está bem, eu tenho esse lado, mas não se esqueça de que o cara que tem a capacidade de percepção superaguçada, ele não pode nem teorizar, não há tempo, senão ele vira escritor.
Como é que acontece para você o lance da composição? Você fica buscando ou a música vem pronta?
Os compositores têm o hábito de uma hora pegar o violão e desenvolver uma ideia. No meu caso, eu tenho a ideia, penso como vou fazer, tomo nota. Às vezes, aparece a ideia pela melodia, é natural isso, daí eu tento colocá-la num contexto, vejo se posso aproveitar no contexto que estou buscando. Daí começo a carpir, a palavra é ralar. Eu sou assim, luto muito, sou um péssimo compositor. O que eu tenho é capacidade de seleção.
Você acredita em alguma entidade religiosa? Tem alguma utopia?
Existe o deus do holandês Baruch Spinoza, aquele que fala que deus é a natureza, o universo, e isso pode ser alguma coisa que eu poderia pensar. Sobre a utopia, a gente sente falta, precisamos de uma utopia. Depois que o comunismo acabou ficou uma vida muito sem chão. Claro que o comunismo era uma facilitação também. Não precisava nada, bastava ser comunista, que era o contrário do que Sartre dizia: bastava ser cristão pra não se preocupar com porra nenhuma, podia sair matando a vontade que estava tudo bem. Mas agora eu passo a concordar com o Caetano, quando ele diz que qualquer coisa "ideológica" atrapalha a arte. Alguém já afirmou que os artistas políticos com sua arte didática pensam que o mundo estaria certo se tivesse um governo certo, e eles não sabem que estão destruindo o mundo com ideias totalmente irresponsáveis, porque a natureza humana não é assim.
Entre a escala tonal e a escala atonal, qual você prefere?
Sobre isso eu gostaria de falar. A atonalidade se tornou uma espécie de obrigação que desencadeou o dodecafonismo e a música serial. E parece a mim agora, nestes dias, que foi uma infelicidade para essas pessoas que passaram a ter essa obrigação nesse mundo musical onde não se podia mais fazer outra coisa se não isso, por que em caso de não se fazer, estavam completamente por fora. Isso parece um castigo. E em toda música atonal, dodecafônica, serial etc., uma das maiores características é que para ter interesse naquilo é preciso ter uma decisão bastante forte e manter essa decisão mesmo que o coração e a mente estejam dizendo "eu não aguento mais". Entretanto, eu só posso dizer isso depois de Philip Glass, que conseguiu criar interesse do acontecimento sonoro, que nem precisa voltar à harmonia funcional, e que conseguiu criar outra coisa que não as tensões. Então é o caso de se dizer: perdeu-se muito tempo com essa bobagem, Agora eu tenho o Glass para argumentar contra a música serial, dodecafônica e também a música tirada de máquinas de Stockhausen e todos os seus seguidores, que são um grupo de músicos interessantes em São Paulo, por exemplo, mas eu me perdoo por não ter interesse e não quero ter.
Mas em algum momento isso já apareceu em sua música?
Desculpe, mas os meninos do rap também criam entonações que são justificadas por uma letra que passa a ter importância e que representa hoje uma face da sociedade. Então, essa é uma bela música, cuja fonte foi o mundo da atonalidade, e de forma intuitiva. Teve um garoto que compôs, no universo inesperado da música funk, o "tô ficando atoladinha" [MC Bola de Fogo], que da primeira vez que se canta até a última, a música sobe em comas, mas se começa em dó, nunca chega a ré. E, entretanto, cria um significado excepcionalmente bem achado que é o do aumento da excitação sexual, traduzido nessa música. Veja bem, eu não estou dando uma penadinha, eu estou falando de uma coisa exata. E aí tem o meu estudo, que eu quero dizer: é um metarrefrão, plurissemiótico e microtonal. Essa música é uma maneira de falar da excitação sexual de um jeito absolutamente genial.

 Saiba mais aqui e www.tomze.com.br/
Allan Constante adora a Tropicália, e por conseguinte, Tom Zé, um de seus maiores expoentes... Eadora entrevista!