Uma mulher se senta na cadeira de seu pai, olha para o horizonte e seus olhos, totalmente parados, expressam uma solidão confusa e desajeitada. A casa, exceto pela presença (quase inerte) dela própria, está vazia. Não há outro som além do ensurdecedor silêncio. A tela se apaga, as luzes do cinema se acendem e sinto um redemoinho dentro de mim.
Como um soco.
Como um tiro de realidade disparado em minha cabeça, sem chance de escapar e muito menos de sobreviver.
Cru.
Cruel.
Magnífico!
O filme “Amor” (Amour, no original) filmado na França pelo diretor Michael Haneke (um diretor conhecido pela crueza e incomodo em suas obras) é o grande favorito ao Oscar de “Melhor filme estrangeiro”. Mas vamos por partes; primeiro a sinopse:
“Georges e Anne são octogenários, pessoas cultas, professores de música reformados. A filha, única vive no estrangeiro com sua família. Um dia, Anne é vítima de um incidente. O amor que une este casal vai ser posto à prova de forma crua e melancólica.”
Vale destacar a ESPETACULAR atuação de Emmanuelle Riva. Uma atriz que traz a marca do tempo e da experiência em cada sinal de seu rosto. Uma expressão de sabedoria em suas feições e um corpo que transmite de forma lenta e gradual, uma dolorosa transformação. Anne passa de uma pessoa ativa e culta para alguém que perde a memória, os movimentos, a vontade de viver, a lucidez e pouco a pouco, todo a integridade que tanto preza.
Falar mais sobre o filme e a interpretação dos atores (sim, Georges, interpretado com sobriedade e leve dose de melancolia por Jean-Louis Trintignant também merece destaque) é antecipar ao público uma experiência que deve ser pessoal e única.
Todos nós envelheceremos. Fato. A cada dia que vivemos é um dia a mais em nossas memórias e um dia a menos de vida. Mas... O que não é a vida, além de memórias? Se não temos memórias do que fomos, o que somos? Uma folha em branco, ou um pergaminho amarelado e envelhecido ao qual ninguém dá valor? Ou um livro em branco aguardando ser reescrito?
Amor nos mostra que a morte não é a maior das dores. Nem para quem se vai, nem para quem fica. Às vezes, a velhice e a ação do tempo pode nos ser ainda mais terríveis que a (muitas vezes consoladora) “indesejavel das gentes”. Nesse caso, a Morte não é somente uma saída, torna-se também uma amiga. Daquelas que nos acolhe, nos abraça e nos faz dormir em seus braços. Não despertaremos. Não viveremos. Não nos encontraremos. Mas não nos esqueceremos.
Várias cenas não saem da minha cabeça, para aqueles que não assistiram, atente-se as cenas onde o elemento “água” se faz presente. Como ela pode ser um sinal de mudança, de vida corrente, de uma existência parada ou de suspense infindável. Mergulhamos todos nós em um lago de tristeza, dor e melancolia. Ainda não consigo respirar. Mas vejo as coisas mais claras e nítidas. A tristeza transborda e me faz suar pelos olhos. É o fim.
E estamos gratos por termos um fim digno. Ainda sim, um fim. Ainda assim, digno!
Trailer legendado
Paz, luz e sabedoria Constantes!
Saiba mais em:
Amor ganha palma de Ouro
Critica de Pablo Villaça
4 comentários:
NOSSA CONSTANTE...AGORA FIQUEI AMARRADAO DE VER
otimo textp allan constant
nuuuuuuuuuuuu;;;
http://constantepoetica.wix.com/constante-poetica
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