Prontos para mais um "Conto Leitor Constante"?
Escrito por Paula Jenevain Grazinoli, Simples Felicidade está aqui para ser lido e comentado por vocês constantes!
Permaneçam enviando seus textos para o e-mail constantepoetica@gmail.com.
Paz, luz e sabedoria!
SIMPLES FELICIDADE
Todo mês de férias, era aquela alegria. Porém, com certeza, o dia mais esperado era aquele. Levantava-me de manhã, já empolgada a ajudar minha mãe na preparação dos quitutes, pois sabia que, logo após o almoço, que seria um pouco mais cedo que o normal, meus primos e tias estariam nos esperando na Praça da Estação.
Só de encontrar aquela criançada toda, já era uma festa! Nossa ansiedade era tamanha, que olhar o relógio da praça era regra. Quanto tempo será que ainda demoraria o Xangai? E lá vem ele, sorrindo pra gente, com movimentos lentos, comparados aos dos veículos costumeiros da nossa geração. Mas era gostoso esperar ele chegar, crescendo cada vez mais nos trilhos, com seu barulho alto, parecendo nos convidar para uma aventura, assim como acontecia nos filmes que assistíamos no cinema Excelsior.
Naquele momento, os sorrisos dos meus primos se misturavam ao evidente encantamento das minhas tias. Parecíamos todos crianças. Enquanto os adultos falavam das lembranças que aquele trem lhes remetia, as crianças corriam para escolher seus lugares nos bancos dos vagões, virando os encostos para frente e para trás. Aquele encosto flexível era uma diversão! Só no Xangai dava pra sentar de frente ou de costas para a direção que o trem seguia.
Quando todos finalmente se acomodavam, era comum que eu fechasse meus olhos para escutar o barulho do trem. Entre buzinas e balanços, lá estava eu, com meu vestido da moda do século XIX, tomando chá em lindas xícaras de porcelana em estilo rococó, com toda a pompa do Xangai, a caminho da casa da minha amiga Princesa Isabel. "Olha lá, olha, menino!" Eram meus primos acenando da janela para as pessoas da rua, fazendo-me voltar para a realidade.
E, se o caminho era a diversão, mais feliz ainda todos ficavam ao lembrar que o passeio só estava começando. Descíamos na estação em frente ao Museu Mariano Procópio e já, em meio as suas lindas árvores, seus simpáticos macaquinhos e seu imponente lago, achávamos o melhor lugar para estender uma toalha e fazer nosso piquenique. Não faltavam roscas, biscoitos e bolos embrulhados em pedaços de papel toalha.
Era já comum entre nós, depois do lanche, brincarmos que éramos parentes da Princesa Isabel, e que, na verdade, estávamos indo para sua casa tomar café. Era a casa da Tia Belinha! Virávamos íntimos daquele lugar. Mas, bastava entrar na casa, que, rapidamente, eu me tornava contemporânea da Princesa Isabel e me vestia novamente à moda do século XIX. Andando pela casa, inventava trejeitos, que, na minha cabeça de criança, pertenciam àquela mulher que eu havia me transformado, que atendia por Sta. Paula. Balançava meu leque fazendo reverência às estátuas que passavam por mim e sorriam. Mas bom mesmo era quando participava das lindas danças dos bailes que se formavam na minha imaginação. Acho que ficaria presa ao passado por um tempo, procurando Isabel e Dom Pedro, se aquela escada escura que dava acesso ao andar de baixo não prendesse minha atenção. Lá era proibido descer.
O que será que lá tinha?
Após sairmos da casa, era a hora da foto. Todos nós ficávamos na grande escada em frente a casa para eternizarmos aquele momento. E como a máquina ainda era de filme, só tinha jeito de ver aquele pequeno recorte do dia depois de algum tempo. E, já anoitecendo, o cansaço nos vencia e a casa era o destino.
Hoje, quando vejo aquela foto, pareço ainda como naquele dia, voltar ao passado. Porém, um passado menos distante e que não possui o glamour dos tempos da princesa, mas não por isso é menos sedutor. Transfiro-me para o dia daquela foto e tento resgatar aquela gostosa sensação de infância, que, em meu mundo, minha família era o elenco e Juiz de Fora, o palco. Palco da minha inocente e criativa imaginação e da minha eterna lembrança de uma simples, mas gostosa felicidade.
Perfil da autora
Perfil da autora
Nascida em Juiz de Fora, é professora de educação física formada pela UFJF e estudante de jornalismo no CES/JF. Apaixonada pelas palavras, já apresentou seus textos em uma exposição realizada no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Recentemente, foi contemplada com a Lei Murilo Mendes e lançará, em agosto, o livro de contos e crônicas "Feio, belo, complexo cotidiano".
Um comentário:
Muito bom o texto e tambem Muito linda!.. Quero conhece-la pra gente trocar algumas ideias eu tambem escrevo. Talvez uma opiniao diferente melhore a minha visao sobre esse mundo literario!!
Facebook: Bernardo Ferraz de Noronha!
Msn: behferraz@live.com
Postar um comentário